Percebi que ninguém quer viver só. Todos reclamam por causa da solidão e por causa da ausência de alguém para amar. Mas quando esse alguém chega, a dificuldade de dizer “eu te amo” é muito grande. Gera uma insegurança desnecessária. O medo de amar é tão absurdo quanto a falta do amor.
O amor não é possessão, mas um ato de doação voluntária. Dizem que não se tem domínio sobre o coração. Eu discordo. Só podemos amar quem escolhemos como alvo do nosso amor. Esse sentimento parte de uma decisão voluntária de cada um de nós. O próprio Deus, que tem poder sobre toda criatura, não obriga ninguém a amá-Lo. Pois Ele deseja de cada pessoa, um serviço de amor que brote de uma apreciação do Seu caráter. Uma decisão espontânea, voluntária e não forçada. Talvez você possa pensar “Mas Jesus chorou sobre Jerusalém porque Seu amor havia sido rejeitado pelo próprio povo a quem viera salvar”. Eis a infinita diferença entre a mágoa de Cristo e a nossa mágoa. Cristo chorou, porque ao rejeitarem-No, o povo de Israel traria graves consequências sobre si mesmo. Cristo contemplou diante de si o futuro tenebroso de Seu povo e sentiu grande angústia pelos sofrimentos que o Seu povo teria que passar como consequência de sua apostasia (Mateus 23: 37 e 38).
Nós, no entanto, sofremos a rejeição porque consideramos que a frustração traga dolorosas consequências sobre nós mesmos. Isso é egoísmo. E é essa a grande diferença entre os sentimentos de Cristo e o nosso. Enquanto que, o que permeava a mágoa de Cristo era uma preocupação abnegada e altruísta o que permeia a nossa mágoa é uma preocupação egocentrica.
O problema é que o medo de amar, é gerado por causa da dificuldade que temos em lidar com a rejeição. Se aprendessemos a amar de forma abnegada e altruísta, então saberíamos lidar melhor com a frustração de não sermos correspondidos, e a dor teria seu alívio na conformidade e contentamento. Veríamos na “rejeição” uma oportunidade e não uma perda. Aprenderíamos a esperar tudo ou nada de quem amamos evitando dessa forma a decepção e a surpresa.
O medo que precede o amor é, na realidade, um receio de que a alto estima de quem ama seja afetada. Tal medo compromete qualquer possibilidade de ser feliz e é pela lógica desse raciocínio que o maior medo deveria ser o de não amar.
O amor é um ato de doação voluntária, altruíta e abnegada, onde a pessoa se doa de todas as formas possíveis para a felicidade de alguém. Sendo assim, a felicidade é puramente natural quando vivemos para servir, visto que, de acordo com a ciência, o cérebro produz maior sensação de prazer quando realizamos doações do que quando as recebemos. É dessa forma que entendemos o porque que o medo de amar não faz sentido. Fica fácil entender também, o porque Cristo diz: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”.