domingo, 4 de outubro de 2015

Os Simbolos da Páscoa


Ao preparar os meus comentários e sermões da bíblia, comecei a pensar que estavam já se tornando cansativos pois, eram assuntos e temas com os quais eu venho trabalhando há muito tempo e veem se tornando repetitivos e sem nenhuma novidade. Sentindo a necessidade de trabalhar temas novos os quais eu nunca parei para meditar sobre eles; entendendo, desde o princípio que Deus não revela algo sem um propósito, eu deveria me questionar o "porque" destes acontecimentos terem sido relatados nas escrituras sagradas. Entre os temas com os quais vou me aplicar nos próximos meses estão as festas fixas, que além de comemorativas, eram cerimoniais típicas realizadas pelo povo de Israel. Minha intenção neste estudo é aprofundar de uma forma bem detalhada, não somente o fato histórico, cronológico, cultural, temporal e cerimonial que envolviam estas comemorações, mas principalmente tratar de questões espirituais que, acredito eu, eram os principais motivos de seu estabelecimento.


Vou começar as linhas deste, com o ritual da pascoa. E porque não? A comemoração da Pascoa tem um significado que vai muito além da percepção comemorativa contemporânea repleta de conceitos seculares, temporais e deturpados quanto ao real objetivo pelo qual ela foi estabelecida. Sem contar a tradição da igreja primitiva com seus dogmas espúrios que obliteram o que foi revelado nas escrituras e não ensinam o real valor da instituição e seu propósito. Sim! a afirmação é dura, mas devo repetir as palavras ditas pelo reformador católico Martinho Lutero "Provai todas as coisas pela palavra de Deus".

O contexto histórico em que foi estabelecida a instituição da Pascoa, foi o tempo em que o povo de Israel estava em seu cativeiro no Egito. Tendo endurecido o coração do Faraó, nove pragas haviam caído em forma de juízo entre os egipcios tendo sido preservado, apenas o povo israelita. O propósito das pragas, não eram apenas libertar israel. A intenção era mostrar a ambos os povos Quem É Jeová. Tanto que, quando Moisés foi introduzido na presença do monarca, ele se apresentou como o embaixador do grande "EU SOU". Essa era uma resposta à idolatria daquela nação que, até certo ponto, havia influenciado o povo Judeu. Cada praga que Deus lançava sobre os mesmos, colocava abaixo os deuses que eles adoravam. Não foi sem admoestações e advertências que Deus efetuou a décima e ultima praga. Deus disse ao Faraó, através de Moisés que, se ele não permitisse que o seu povo, o seu primogênito entre as nações, fosse liberto para adora-lo no deserto, seria tirada a vida do primogenito de Faraó - Exodo 4: 22 e 23. Conquanto fosse a última; pela sua misericórdia, ela foi avisada antes que a primeira praga acontecesse. A ultima e derradeira praga, mostraria o Deus da vida, infinitamente maior que o Faraó adorado e reverenciado erroneamente como um deus. Onde estaria seu poder quando os primogênitos de toda a nação e inclusive o seu próprio primogênito viesse a sucumbir?

Volvendo-nos das causas da ultima praga, podemos contemplar o estabelecimento da Pascoa. Antes que israel saísse do Egito, Deus deu as devidas orientações de como o povo deveria proceder quanto a sua partida. Cada orientação deveria ser seguida estritamente. Cada família, algumas em união com outras, deveriam tomar para si um cordeiro sem defeito qual seria imolado e seu sangue aspergido nas ombreiras das portas de cada família judaica, para que, passando o anjo da morte naquela noite não ferisse os seus primogenitos. Naquela noite, o cordeiro assado, deveria ser comido apressadamente com pães asmos e ervas amargas. Assim foi instituída a Pascoa, uma comemoração, que era um memorial da libertação de Israel do cativeiro egípcio. Mas a instituição é somente histórica e comemorativa?

Vou responder essa com textos de fontes inspiradas:

"A páscoa devia ser tanto comemorativa como típica, apontando não somente para o livramento do Egito, mas, no futuro, para o maior livramento que Cristo cumpriria libertando seu povo do cativeiro do pecado". Patriarcas e Profetas, pág 163.

Assim como nas atividades que envolviam os rituais sagrados do santuário os quais simbolizavam o real e verdadeiro tabernáculo, criado não por mãos humanas, mas pelo próprio Deus, onde todo o cerimonial prefigurava o que Jesus Cristo fez para remir o homem de seus pecados; a instituição da páscoa, além de ser um evento comemorativo, era repleto de minuciosos detalhes que apontavam para um evento extraordinário o qual envolvia, o sacrifício de Cristo, a remissão dos pecados na vida daqueles que aceitassem este sacrífico e a volta do salvador para libertar o seu povo de todos os tempos do cativeiro da morte para viver a vida eterna na terra prometida, a Canaã celestial. Cada elemento da Páscoa prefigura esse ideal.

Vamos então conhecer e dissecar cada um destes elementos:

O Egito: Se a páscoa é uma instituição típica que aponta para o grande livramento do povo de Deus da morte e do pecado; logo, o Egito simboliza este mundo em seu estado atual degradado. E se, o Egito representa o mundo; logo, Faraó representava Satanás. Como Cristo um dia disse: "Aí vem o principe deste mundo e ele nada tem que ver comigo".

O Cordeiro sacrificado: "...cada um tomará para si um cordeiro, segundo a casa dos pais, um cordeiro para cada família" Êxodo 12:3. Este era o centro da realização da páscoa - o cordeiro sacrificado e o mesmo simbolizava Cristo, "O cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" Jo 1:29. Ou como diz o apóstolo: "Pois também Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado" I Cor 5:7.

O sangue do cordeiro nas ombreiras das portas: - "O hissopo empregado na aspersão era simbolo da purificação, assim sendo usado na purificação da lepra e dos que se achavam contaminados pelo contato com cadáveres. Na oração do salmista vê-se também sua significação 'Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve' Salmo 5:17". Patriarcas e Profetas página 163.

A carne: O ato simbólico de comer a carne significa que não basta crermos em Cristo, nosso cordeiro pascal e libertador, significa que temos um papel a desempenhar neste processo de libertação. Não basta crer nEle, mas devemos no alimentar dEle, por meio da comunhão que envolvem a oração, o estudo da palavra e a meditação. Por isso Cristo disse "Se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes de Seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come da Minha carne e bebe do Meu sangue, tem vida eterna" João 6:53, 54 e 63.

Ervas amargas: O comer a carne com ervas amargosas representam a amargura do cativeiro do Egito. Assim, ao nos alimentar de Cristo, devemos fazer com contrição de alma, arrependidos pelos nossos pecados que causam separação entre nós e o nosso libertador. Separação essa que por milênios tem nos tornado escravos deste mundo.

Pães Asmos e o Fermento: Cristo é revelado no livro do apóstolo João como o pão que desceu do Céu e a observância que envolve o comer pães asmos sem qualquer introdução de fermento em sua receita indica que este fermento representa o pecado do qual todos os que se alimentam de Cristo devem se abster. "Por isso celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade" I Cor 5:8.

Assim pois está relatada a observância da páscoa no livro sagrado, não apenas para que fosse praticada; pois, quando Cristo esteve na terra e ao se despedir dos Seus discípulos, instituiu a santa ceia para que fosse celebrada em lugar da páscoa. Mesmo assim, a páscoa deveria ser estudada ao longo dos séculos até a volta de Cristo para entendermos a profundidade das lições espirituais através dos símbolos desta instituição.



 

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Graça - O Amor de Deus em Ação


Lidar com quebra de paradigmas não é fácil porque exige que nós saiamos da nossa zona de conforto com relação às nossas filosofias de vida, ideais, costumes, tradições e até mesmo conceitos doutrinais. Um deles é o conceito de graça com o qual estamos acostumados a ouvir constantemente. É comum vermos os nossos pastores, dentre outros oradores, que a Graça é um dom imerecido. Assim tem sido pregado e nós, sem qualquer questionamento ou análise bíblica, aceitamos de bom grado e assim repetimos em nossos comentários quando é oportuno. Não está errado dizer que a graça é assim; porém, o conceito não está completo. A graça é tão eterna quanto é eterno o próprio Deus; pois, está intimamente relacionada com a natureza divina. Ora, se o pecado é o que nos faz imerecedores da graça, então qual era o conceito dado a ela antes que existisse o pecado?
Em todas as escrituras sagradas e em todos os livros de Ellen White, entendemos que a graça é o amor de Deus em ação. A dinâmica criadora do nosso Senhor revela o Seu amor pelas suas criaturas bem como o Seu próprio sistema de governo. Por esse motivo é que a graça é um dom que não merecemos. Porque somos dignos de morte; mas, o amor de Deus em ação revela a Sua infinita misericórdia em conceder ao homem um tempo de graça para converter-se dos seus maus caminhos, e poder viver eternamente no reino da Glória.
João em suas epístolas disse que Deus é amor, a Lei de Deus é uma expressão de Seu caráter; logo, a Lei também é amor. Quando Lúcifer levantou sérias acusações contra o caráter divino, ele introduziu dúvidas com relação à Graça, que é o amor de Deus em ação, manifesto na Sua própria pessoa e no Seu sistema de governo.
De acordo com o livro PP página 34, o principal motivo pelo qual Deus estabeleceu o Plano da Redenção, foi para revelar o caráter DEle. Em outro livro, O Desejado de Todas as nações, está escrito que "através do plano da redenção, o governo de Deus fica justificado". A palavra justificação aplicada ao pecador significa que, ao buscar a Deus com arrependimento genuíno, ele é perdoado e absolvido da condenação da morte pelos méritos do sacrifício de Cristo. Mas neste caso, a palavra justificação ganha um sentido mais amplo. O governo de Deus não precisa de perdão porque é perfeito, mas antes que fosse provada a sua inocência toda a sociedade universal contempla o desenrolar deste processo chamado O Grande Conflito; então, ao apresentar Cristo, o Seu sacrifício perante o Pai, cumprindo todos os requisitos da Lei, estando com a natureza humana degradada por quatro mil anos, o governo de Deus é absolvido, inocentado das acusações de Satanás. Seres celestiais e a humanidade, não terão dúvidas e reconhecerão que Deus é justo e bom e que todos os Seus caminhos são beneficentes.  Consegue perceber que o Plano da Redenção faz muito mais sentido para mostrar quem é Deus do que unicamente para salvar a humanidade?
Conquanto os seres celestiais possuíssem natureza mais elevada que a dos seres humanos, e embora essa natureza fosse imaculada, eles nunca foram e nunca serão absolutos na esfera em que foram criados. Somente Deus é absoluto. Somente ele tem o pleno conhecimento de si mesmo e de todas as coisas. Logo, embora soubessem que Ele é amor, que a Graça é o Seu amor em ação, eles não tinham plena compreensão sobre isso. Tanto que uma terça parte dos anjos se rebelaram contra Deus e a outra parte que se manteve do lado de Deus teve dúvidas, sem contar o fracasso de Adão e Eva, queda que aconteceu porque deram ouvidos as dúvidas que Satanás queria introduzir em seu coração. Logo, o Plano da Redenção, não somente foi colocado em prática para salvar o homem, mas para revelar à toda sociedade Universal o amor de Deus. A graça não surgiu com o Plano da Redenção, mas o mesmo é uma manifestação inaudita da graça.
Quando perdemos de vista o nosso foco - Deus. Quando nos concentramos em nós mesmos e em nossas prioridades, revestindo-nos de um falso manto de santidade, perdemos de vista o real sentido de sermos discípulos de Cristo. Centralizamos-nos no grande conflito e agimos como se Deus tivesse que estar sempre à nossa disposição para servir-nos. Agimos como se Deus fosse aquela pessoa camarada que passa por alto os nossos defeitos porque nos ama e quer nos salvar. Devemos ter a consciência que foi a rebelião de Satanás que o excluiu das cortes celestes para nunca mais voltar. Precisamos entender que, conquanto Deus seja misericordioso, não querendo que ninguém se perca, senão que todos cheguem ao arrependimento, a salvação de todo pecador depende do seu interesse genuíno em reformar a sua vida para ser qual Cristo, O Mestre a quem juga seguir. Nossa profissão de fé deve revelar O Seu Originador. É quando nós nos lançamos aos pés de Deus em nosso total desamparo e dependência, é quando debilitados, suplicando que Ele exerça em nós tanto o Seu querer como o efetuar conforme a Sua santa vontade que Ele opera em nós o desejo de contribuir para a salvação do caráter divino. O mundo cristão perdeu de vista o puro sentido da graça. Outro extremo o qual Satanás inculcou na mente humana é a ideia de um Deus tirano e arbitrário, que fica a espreita desconfiado, esperando a manifestação dos nossos erros para nos punir. Tal concepção chega a influenciar o pensamento de que Deus é sádico. Quando aceitamos o chamado para sermos Seus missionários, o propósito da missão está acima da nossa própria salvação. Revelar em nossa vida o poder transformador da graça que opera mediante a fé e é vista por todos como o amor de Deus em ação por Suas criaturas sem que um único ponto e vírgula da Sua Santa Lei sejam revogados, torna-se o alvo supremo da nossa jornada cristã.
Diante do conceito que agora temos da graça e ao chegarmos à conclusão de que o Plano da Redenção é uma manifestação inaudita da graça, colocado em prática para revelar o caráter divino, podemos facilmente compreender a função da igreja na terra. Mas para que tal afirmação não seja interpretada como sendo uma ideia pessoal, citarei o que está escrito no livro Atos dos Apóstolos página 9: "Desde o princípio tem sido plano de Deus que através de Sua igreja seja refletida para o mundo Sua plenitude e suficiência. Aos membros da igreja, a quem Ele chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz, compete manifestar Sua glória. A igreja é depositária das riquezas da graça de Cristo; e pela igreja será a seu tempo manifesta, mesmo "aos principados e potestades nos Céus" a final e ampla demonstração do amor de Deus".


quarta-feira, 15 de abril de 2015

Hebraísmo



Nas escrituras sagradas são usadas expressões idiomáticas, típicas da cultura israelita, as quais chamamos de hebraísmo. Alguns textos ou, eu diria, grande parte dos textos da Bíblia são compreendidos de forma superficial ou até mesmo de maneira equivocada pela falta de conhecimento das mesmas. Um exemplo clássico é a referência que temos de quando um dos discípulos pergunta a Jesus quantas vezes devemos perdoar e então Ele dá a seguinte resposta: "Setenta vezes sete". Cristo aqui, se utilizou de um hebraísmo o qual quer dizer infinitamente. Ele não disse que devemos perdoar 490 vezes; mas sim, sempre!

Alguns religiosos negam a divindade de Jesus Cristo excluindo textos das escrituras ou tirando outros de seu contexto; porém, notem o seguinte, várias vezes, nos evangelhos Cristo usa as seguintes expressões referindo-se a si mesmo: "Filho do Homem" e "Filho de Deus". Esses não são conceitos ocidentais, onde dizemos sem distinção nenhuma que todos nós somos filhos de Deus. Nestas expressões usadas no hebraico, quando Cristo diz que é Filho do Homem, Ele refere-se à sua absoluta humanidade e, quando Ele diz que é Filho de Deus, está referindo-se à Sua absoluta Divindade. Por esse motivo, os que se recusavam a reconhecer a divindade de Jesus, O repudiavam e tramavam a sua morte, mesmo reconhecendo nEle todos os indícios de que era Deus encarnado.

O estudo das escrituras não deve ser baseado em uma leitura superficial. Requer uma pesquisa mais aprofundada e dedicada sob a influencia do Espírito Santo para que não aconteça que tenhamos uma compreenção equivocada ou mesmo limitada. Cristo era 100% Deus e 100% homem. Alguém cuja natureza é singular e incomparável. Conquanto fosse também um profeta era sem sombras de dúvidas alguém que se distinguia entre todos os profetas.